terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

God Bless Dancouga

De vez em quando resolvo assistir uma série, filme ou anime antigo, de uma época em que eu tinha a idade certa pra ver, mas não tinha acesso. Ou porque não tinha aparelho de tv naquele momento, ou porque não passou aqui no Brasil. Tem muita coisa que consigo ver hoje, graças à internet e à boa gente que se dá ao trabalho de distribuir gratuitamente e até disponibilizar legendas na nossa língua.

Hoje terminei de acompanhar os 38 episódios de Chôjuu Kishin Dankuga, ou Super Beast Machine God Dancougar, como ficou conhecida nos EUA. Dancougar, pra ficar mais fácil. É um daqueles animes de robô gigante que é formado por veículos menores que se combinam, cada um com seu piloto, nesse caso, quatro: Shinobu Fujiwara, Sara Yuki, Masato Shikibu e Ryo Shiba. Eles formam a "Força Cyber Beast", uma unidade formada pelas forças de defesa da Terra para combater os aliens invasores Zorbados.

Quando a série começa, Sara Yuki e Shapiro Keats, ambos da Academia Militar Australiana, são namorados e aparentemente muito apaixonados. Mas com a chegada das forças invasoras do planeta Zorbados, todo o sentimento de ambição e desprezo pelos mais fracos, latentes em Shapiro, vêm à tona e este abandona Sara, desertando para o lado dos alienígenas e se posicionando como um dos generais do Imperador Muge. Ao longo da série, é possível ver como o orgulho e arrogância de Shapiro vai consumindo sua humanidade, ao ponte de absurdamente, considerar a si mesmo quase um deus.

De forma inovadora para a época, a narrativa não se apressa em nos apresentar o Dancougar propriamente dito, e mostra os pilotos gradativamente se acostumando com os veículos que, num primeiro momento, são dois tanques médios, um tanque grande e um caça. Após alguns episódios aprendem a transformação destes veículos para o "modo agressivo", as feras: um cougar (pantera), um liger (leão), um mamute e o caça, que já se parecia com uma águia, agora passa a emitir uma aura luminosa e altamente destrutiva. Um terço da série se passa, e agora eles também podem se transformar no modo humanóide, os robôs. Somente após a metade inicial do seriado é que os pilotos aprendem a concentrar suas "energias psíquicas" e assim formar o poderoso Dancougar. Ah, os Power Rangers tinham isso tudo de mão beijada, isso não é justo...

O título ainda apresenta seus altos e baixos: todos os arquétipos desse tipo de anime estão ali: o líder impetuoso de sangue quente, o cara bom em artes marciais, o sujeito carismático e a femme fatale. Mas ao contrário dos "super robot animes", a ação não se passa só no Japão, na maioria dos episódios o cenário são países da Europa, América e África. Enormes aeronaves de carga levam os veículos da FCB até onde os ataques inimigos estão mais focalizados. Romances são iniciados e dolorosamente terminados, como resultado de toda guerra.

Como sempre aconteceu na indústria dos animes, ter ou não a verba certa para cada etapa do processo vai refletir diretamente na qualidade do produto final. Por isso, há episódios muito bem trabalhados, mas outros em que tanto o design dos personagens quanto a animação deixam muito a desejar. Naquela época, quando ainda não era comum o uso de computadores para auxiliar nesse trabalho, o resultado era outro! Mas de modo algum eu poderia tirar pontos de Dancougar por isso.

Outro fator que me surpreendeu foi o final. Diferente de qualquer outro anime do gênero, onde o império inimigo era subjugado e destruído, aqui os pilotos do enorme mecha são obrigados a perseguir o imperador que voltou a seu próprio mundo, e para isso atravessam o hiperespaço com as energias restantes de seu quartel-general, sem perspectiva de retorno. Triste, porém digno.
Mas as aventuras desse quarteto fantástico não terminam aí. No Japão, foram lançados 04 episódios diretamente para o mercado de vídeo doméstico, além de um filme, chamado "God Bless Dancouga".

Mas, vamos ao motivo da publicação deste post!

No final da série, há um diálogo que me chamou a atenção. Shapiro, já derrotado e sem forças, olha para a tela de um monitor em meio aos destroços e poeira da base destruída pela Força Cyber Beast. No monitor, está Luna, uma serva fiel do imperador Muge, que se encantou por Shapiro e toda sua ambição ao longo da história, mas que agora vê como fracasso total o resultado de sua ousadia e delírios de grandeza. Sabendo que o terráqueo abandonou tudo o que sentia por Sara, para se tornar um grande conquistador, ela diz:

- "Você disse que iria abandonar a tolice do amor para alcançar a divindade. Mas, talvez, Deus só seja encontrado quando, ao invés disso, se escolhe o amor. Não acha?"

Não preciso dizer mais nada. Numa fala vinda de uma extraterrestre a um humano, existe a noção de que Deus e Amor são interligados e um não pode ser separado do outro. Acho muito, muito interessante quando vejo nuances da Graça espalhadas em todo lugar, em todo cantinho esquecido, inclusive num anime de robôs gigantes de 1985...

Abayo!

                                                                   

2 comentários:

  1. Tremenda frase, hein? Fiquei com muita vontade de ver essa série também. Parabéns pelo texto. Ficou jóia! Falow!

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