quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Dois reis


No final de Breaking Bad, a sensação foi de ter visto uma das melhores séries de tv de todos os tempos. A opinião de público e crítica foi quase unânime. Apesar de Lost ter durado muito mais e nos apresentado a uma gama mais ampla de personagens carismáticos, foi na história do professor de química que se torna traficante de drogas que encontramos uma maior verossimilhança com a realidade. Além, é claro, do fato de que os escritores souberam quando dar um fim à história, que não foi o caso de Lost, pois os sobreviventes do voo 815 da Oceanic Airlines tiveram que se esticar e se reinventar em incessantes reviravoltas de roteiro, além de um final que agradou a poucos.

Quando digo que Walter White se tronou um "drug dealer", eu estou diminuindo bastante os fatos. A verdade é que, ao ser diagnosticado com câncer, o cara achou que antes de morrer deveria deixar uma situação financeiramente estável para sua família - a esposa, grávida na época, e um filho adolescente - e o salário de professor não era o suficiente nem lá nos EUA como também não é aqui. Seu cunhado, agente policial da divisão de narcóticos, durante uma festa na casa de Walter, exibe o vídeo de uma apreensão de drogas, onde aparece uma enorme quantidade de dinheiro que estava em posse dos traficantes. Foi nessa hora que o professor teve um "estalo". - Porque não? deve ter pensado ele, alguém que não tinha mais nada a perder, em sua pobre concepção do que realmente significa perda. 

Aliás, é este o conceito que dá nome ao seriado. O termo em inglês "breaking bad" quer dizer, mais ou menos, "indo pro lado mau/dos maus" ou "chutando o balde", numa tradução muito mais livre. É a atitude de quem acha que todos os seus esforços não deram em nada, de quem se acha um fracasso, de quem se cansou de agir conforme os parâmetros da sociedade, do bom-caráter, de noções de moral e bons costumes. Ele se cansa justamente por não receber méritos nem recompensas por ter vivido assim até então. É a atitude de quem se questiona porque tem que dar bom exemplo, se os outros não dão. "O que eu ganho com isso?", é a pergunta mais frequente.

Então, formando parceria com Jesse Pinkman, um jovem que foi seu aluno de química no colégio, e que atualmente está envolvido com tráfico de drogas, Walter White passa a fabricar a droga sintética conhecida como metanfetamina, a melhor do mercado, e gradativamente vai galgando os escalões do crime organizado, passando por cima de qualquer um para alcançar o que mais almeja: o título de "rei" do tráfico de entorpecentes. O que antes era um "trabalho" com data pra começar e pra terminar, pra juntar o valor que ele achava suficiente pro sustento de sua família por um bom tempo, se transforma em uma obsessão, um capricho desmedido, uma vaidade insaciável por poder e admiração. Adota o nome de Heisenberg, como fica conhecido por todos os que fazem negócios com ele.

O problema é que, assim como gentileza gera gentileza e as virtudes sempre produzem bons frutos, também a maldade nunca fica impune, e a inexperiência de Walter, aliada à sua ganância, o colocam a ele e sua família - alheia a respeito de suas atividades a maior parte da série - em uma enrascada após a outra. Sempre que ele comete um erro, esse erro gera consequências absurdas, que também precisam ser remediadas. E ao remediá-las, novas consequências ainda piores vão surgindo e o sugando ainda mais para as trevas, num caminho praticamente sem volta. É como assistir ao Mr. Bean, só que ao invés de rir, a gente sofre e lamenta. Para mais detalhes, assistam ao seriado (quero dizer Breaking Bad, não Mr. Bean).

Na última conferência bíblica que ocorreu na comunidade em que congrego, os temas abordados eram todos ligados ao rei Davi, sua queda e a sequência de erros que ele cometeu, abrindo a porta para que o pecado arruinasse toda a sua família. Comecei a fazer comparações entre a história bíblica e a série que acabara de ver. Tiveram origem humilde e ascenderam a uma posição de prestígio? Check! Se tornaram reis (cada um à sua maneira)? Check! Se deixaram corromper pelo poder? Check! Suas famílias pagaram caro por isso? Check!

O rei Davi tinha um histórico de vida praticamente impecável, tudo o que conquistou foi graças ao Deus a quem servia. Começou derrotando um gigante ainda jovem, depois se livrou de um rei louco que o perseguia, ele próprio foi ungido rei de Israel, lutou com seus exércitos e triunfou todas as vezes. Até o dia em que baixou a guarda. Estando com todas as suas necessidades básicas satisfeitas, deixou de estar nas batalhas e passou a ficar em casa, ocioso. Passeando no terraço do palácio, vê a mulher do vizinho tomando banho e a deseja. A deseja e a possui. Tenta enganar o marido dela, não consegue e o manda de volta pra zona de guerra, e mexe uns pauzinhos pra botar o cara na linha de fogo, e já era. Para mais detalhes leiam o segundo livro de Samuel.

Como é que um "homem segundo o coração de Deus" me faz uma bobagem destas? Se para Walter White podemos dar um desconto, pois de Deus não se lembra nem se comenta, o que diremos de Davi? Como é que estes dois reis cometeram atrocidades semelhantes, e tentaram "consertar" a besteira que fizeram com outra ainda pior? E a coisa só vai piorando, pois é da natureza humana tentar resolver uma cag situação ruim por si só, desconsiderando a princípio toda ajuda que lhe é oferecida, e tentam tapar o sol com a peneira. Lembram de Adão e Eva? Então. Só que eles tentaram tapar com outra coisa. Moral da história? Todo homem é falho, todo homem é corruptível, todo homem é tentado e provado... tanto os que são exemplo de vilania como os que são exemplo de virtude.

O que muda pra gente é: em quem colocamos a nossa confiança? O sr. White sempre confiou muito em si mesmo, no seu julgamento, em sua inteligência e em suas capacidades acadêmicas. Já o rei Davi sempre confiou no Senhor seu Deus... até aquele dia fatídico na varanda. Naquele dia, o homem que era rei porque Deus quis, o homem que tinha toda aquela riqueza porque Deus quis, vencia todas as batalhas em nome do Senhor e que também podia ter várias mulheres porque assim lhe era consentido por Deus, simplesmente achou que ele era isso tudo e decidiu passar a confiar em seu próprio julgamento. Pensou que era "brother" de Deus e que o Senhor talvez iria fazer vista grossa. Tudo ia bem até que o profeta Natã bateu em sua porta, trazendo o veredito do Senhor que afetaria o destino de toda a família real. Aí, meu amigo... aí a "casa caiu".

A diferença do que acontece no fim, entre estes dois homens, é que um deles sabia da existência do amor e do perdão que só Deus pode conceder, o outro não. A saída pra um foi o arrependimento verdadeiro, pro outro não posso contar porque tem gente que ainda não viu o final de Breaking Bad.

Tudo de bem.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O perigo de passarmos dos limites


O anime Claymore está no meu "Top 10": direção de arte, música, animação... tudo de excelente qualidade. Mas o que mais me chamou atenção foi a história. Num mundo aparentemente situado na idade média, criaturas demoníacas conhecidas como "Youma" se tornaram um verdadeiro pesadelo para a humanidade. São predadores vorazes que se alimentam das vísceras das pessoas, atacam em bandos ou simplesmente alteram sua aparência para a forma humana e se infiltram nas cidades, assaltando as casas à noite. Para caçar e destruir os youmas foram criadas as guerreiras chamadas de Claymores - em alusão à imensa espada que carregam - que podem detectar a presença das criaturas, mesmo disfarçadas, e eliminá-las com eficiência. As Claymores são em geral belas mulheres, que possuem olhos prateados e cabelos claros. Elas têm força e agilidade muito superior à média humana, além de poder detectar o "youki", a energia espiritual dos youmas.

O segredo por trás desses poderes está no fato de que, para criar uma Claymore, carne e sangue de youma são implantados no corpo destas mulheres, fazendo-as seres híbridos, meio humanas e meio youmas. Clare, a protagonista da história, se ofereceu de livre e espontânea vontade ao processo de transformação, impelida por um forte desejo de vingança contra os youmas, que mataram primeiro sua família, depois a Claymore Teresa que a adotou. Gostaria de falar mais sobre detalhes do enredo e da misteriosa Organização por trás de tudo isso, mas o mais importante aqui é falar a você sobre o "calcanhar de Aquiles" do poder que as Claymore possuem: a necessidade constante de autocontrole.

Assim como os youmas, as Claymore também tem youki, a energia que lhes dá o poder sobre-humano que as capacita a realizar seus feitos incríveis. Quanto mais elas abusam desse poder, mais perto de perder controle sobre ele elas ficam. Quando uma Claymore está no calor da batalha, ela precisa controlar sua raiva, seu medo e seu sofrimento, para que seus poderes não saiam do controle. Quando isso começa a acontecer, primeiro seus olhos mudam de cor, passando do prateado para um dourado brilhante, depois o rosto começa a ficar deformado... se forçar mais o corpo passa a ter características de um youma... se a situaçao continuar, a mente vai ficando confusa, e o lado youma começa a assumir o controle. Depois de um tempo nessas condições, a Claymore chega a um ponto onde não consegue voltar atrás, e se transforma de vez em um tipo de youma mais forte, mais inteligente e muito sedento por sangue: o kakuseisha, que significa "o despertado".

O interessante é que o processo de liberar o youki dá ao usuário desse poder uma incrível sensação de prazer, o que torna todo o processo de parar a transformação algo que exige uma forte dose de autocontrole. Por isso só existem Claymores mulheres, os resultados com homens foram péssimos... dentre os que sobreviveram, todos se tornaram kakuseishas! (uééé... porquê será?)
Depois da transformação - ou, despertar - ainda ficam resíduos da consciência humana no kakuseisha, mas estes são dominados facilmente pela incontrolável sede de sangue que acaba de surgir, além da sensação de alívio sentida por não ter mais os antigos conflitos humanos. Sem mais dilemas de moral, nem regras a serem seguidas, somente o prazer e a auto satisfação!

Meu irmão e eu assistimos a essa serie praticamente juntos, só que eu aqui e ele em São Paulo, e na época discutimos bastante sobre a singular semelhança que existe entre os efeitos do youki e do pecado. A palavra "kakuseisha" era muito empregada entre a gente naquele tempo, pra fazer alusão àqueles que se deixavam dominar pelo pecado, chegando num ponto em que o próprio indivíduo já se mostrava sem forças e sem vontade alguma em voltar à antiga forma. E quando falo de pecado cometido, falo de qualquer pecado, já que desde o considerado "menor" tem a capacidade de fazer um furo em nossa suposta armadura. O paralelo que Claymore faz com a vida espiritual é fascinante: num momento você é o herói, aquele dotado de força e de recursos pra resolver qualquer parada, mas que, ao começar a curtir todos os acertos a glória do momento - seja o do instante ou o da vida - deixa com que a soberba lhe suba à cabeça. E uma vez que sobe à cabeça e encontra lugar no coração, vai lhe dando mais e mais satisfação, mais prazer, mais sensações boas demais para serem negadas. Aí, meu amigo... é kakuseisha!

Por isso toda a Escritura está cheia de advertências sobre termos autocontrole. O apóstolo Paulo cita o domínio próprio como uma das partes (gomos?) que compõem o fruto do Espírito. Os provérbios de Salomão fazem referência a isso muitas vezes. Jesus era um exemplo vivo de temperança, resistindo a inúmeras provações simplesmente por amor. Todos nós precisamos, urgentemente, buscar por essa virtude em nossas vidas. Somos seres manchados pelo pecado desde o nascimento, é fato, por isso temos que aprender a conviver com essa pendência até o dia da nossa redenção. "Pecamos porque somos pecadores, e não o contrário". Se o pecado é algo inevitável, por ser algo ligado à nossa natureza - como o "youki" - e não somente às nossas atitudes, precisamos da Graça diariamente... não, a cada segundo, para resistirmos e continuar lutando mais um dia!
Morte aos youmas!!!... (tô brincando)


Tudo de bem e se controle, faz favor.


                                                                     
                                           Abertura e encerramento da série:


                                                                       



                                         Claymore disponível também em mangá:




sábado, 19 de outubro de 2013

Os 3 pilares do blogueiro


Talvez alguns colegas vão discordar, mas acredito que, passada a empolgação inicial de se escrever um blog, todos se deparam com a árdua tarefa de reunir três elementos, três pilares que juntos, podem permitir ao escritor - seja de blog ou não -  que haja sinal verde para a próxima postagem.
São eles o tempo, a disposição e a inspiração. Quando falta apenas um deles, a coisa não anda.

Às vezes temos tempo e disposição, mas a inspiração não vem. Temos até uma ideia do que escrever, um tema recorrente em nossa mente, mas que carece de corpo, de sustância. Mesmo pra mim, que definiu regras pra si próprio no começo do blog, como por exemplo "não escrever textos longos", fica difícil. Porque mesmo em textos curtos, objetivos, tem que haver harmonia entre o início, o meio e o fim. E a inspiração pra fazer algo assim, simplesmente não aparece.

Às vezes temos tempo e inspiração, mas falta disposição, ou mesmo saúde. Tem aqueles dias em que a gente chega muito cansado do trabalho, principalmente quando o cansaço é mental. Além do cansaço, pode ter aquela visita inesperada da dor de cabeça, dor nas costas... enfim, não dá pra se dedicar a algo que em tese deveria ser prazeroso, numa situação onde o que a gente mais quer, é mesmo uma cama.

Às vezes temos disposição e inspiração, mas cadê o tempo pra escrever? Além do horário comercial de trabalho, nosso dia-a-dia está cheio de compromissos sociais. Estudos, academia, reuniões religiosas, encontros com amigos... tudo isso vem como prioridade, antes do blog. Além do mais, que adianta vir aqui escrever sobre filmes, series, animes, games e livros, se não posso reservar tempo pra assistir filmes, series e animes, jogar os games e ler os livros? Rá!

Se o seu blog favorito publica os posts com frequência regular, com qualidade e originalidade, respeite muito o autor: ou seu trabalho é profissional (ele ganha pra isso), ou ama muito seu blog e seus leitores, a ponto de dar-lhes uma prioridade bem diferente da habitual!

Tudo de bem!



segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Memórias são vitais, mesmo as ruins


Se você pudesse eliminar todas as más lembranças de uma vida, você o faria? E apenas uma lembrança, aquela que parece te impedir de seguir em frente? É uma boa pergunta, não é? Alguém teve a ideia de transformar o conceito dessa pergunta em um filme, e surgiu "Brilho Eterno De Uma Mente Sem Lembraças", de 2004. Escrito por Charlie Kaufman e Michel Gondry, o longa conta a história de Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet), um casal apaixonado que, após algum período de muita alegria, vivem um relacionamento que aos poucos vai se deteriorando, e resolvem se separar e tentar seguir cada um com a sua vida. Só que, como ambos sofrem demais em lutar contra a dor do rompimento, eles resolvem, sem que um suspeite do outro, procurar uma clínica que é especializada em "apagar memórias". Joel quer viver como se nunca tivesse conhecido Clementine... e Clementine quer apagar o Joel de suas lembranças também.

A clínica deste mundo fictício se chama "Lacuna" não por acaso, uma vez que, após submeterem o paciente a um processo invasivo em sua mente, este não se lembrará mais do motivo que o faz sofrer, seja um tempo, um lugar, ou uma pessoa. Fica no lugar dessa memória, uma lacuna mesmo, um vazio, onde antes existia algo substancial. Durante a sessão em que aparelhos são conectados ao paciente que dorme em sua cama, a equipe faz uma "limpeza" pela casa, coletando todos objetos que poderiam fazer conexão com a pessoa a ser apagada da lembrança: cartões postais, presentes, roupas ou CDs. Tudo previamente listado pelo sofredor em questão.

O filme mostra o que podem fazer duas pessoas que se amam, mas que não conseguem mais viver em harmonia. Ao invés de compreender, relevar, abrir mão, a solução tomada é o rompimento. Fica claro para o espectador o quanto os dois podem ser felizes, o quanto eles se completam... mas pequenas coisas, como a mudança de humor, o estresse, a comunicação inadequada, podem fazer com que um relacionamento termine da pior forma. E estes dois, ao se separarem, percebem a idiotice que cometeram, mas o orgulho não deixa com que voltem atrás, então sofrem profundamente. A sequência marcada pela belíssima versão de "Everybody's Gotta Learn Sometime", interpretada por Jeff Beck, é tocante, e mostra exatamente este momento da vida do casal separado. O que fazer então? A Lacuna Incorporated está aí pra isso! Recorrem a esse recurso para "deixar de sofrer". Não é o que todo mundo quer? Felizmente, durante o processo de apagar a memória, Joel percebe o quanto Clementine é importante, o quanto ele a ama, e em sua mente - e na sequência mais espetacular do filme -  ele passa a lutar contra o "processo de apagamento" e tenta salvá-la em algum lugar de sua mente, no qual poderá lembrar dela de novo. Lágrimas.

Voltemos à realidade. Ainda bem que não existe uma companhia, empresa ou clínica especializada em fazer coisas desse tipo. Não ainda. Porque, apesar da dor que podem nos causar, nossas memórias são em grande parte responsáveis por fazer de nós quem somos. É através de aprender com nossos erros e acertos que vamos nos adaptando, melhorando, aperfeiçoando nas diversas áreas da vida. Imagine se pudéssemos apagar de nossa mente uma tremenda tolice que cometemos no passado, e que nos faz sofrer muito quando lembramos? Nesse processo, eliminaríamos também todo o aprendizado que tiramos do tal episódio, e poderíamos cometer a mesma tolice novamente. Lembrar de coisas horríveis que fizemos no passado nos leva a ponderar sobre quem fomos e quem somos agora. E quem poderemos ser. Renegar as lembranças é renegar toda uma existência. Sei que temos prazer em recordar os bons momentos da vida, e isso é muito saudável. É saudável inclusive que desejemos repetir sempre que possível tais bons momentos, e sonhar com momentos ainda melhores! Mas os maus momentos estão aí em nossa cabeça, não para que possamos querer repeti-los, mas evitá-los. Agora imaginem, se existe gente aos montes que repete a mesma burrada mesmo após se lembrar da última que cometeu, imaginem se não pudessem se lembrar?

A memória sadia é uma dádiva de Deus. Precisamos agradecer por tê-la e fazer bom uso dela. A vida nos traz e continuará trazendo momentos de alegria, paz e satisfação, mas também os momentos de dor, sofrimento e angústia. Para estes últimos, não adianta querer esquecer, apagar das nossas lembranças, e sim, tratá-los com cautela. Cautela para que não nos afoguemos neles, a ponto de não podermos mais seguir em frente, mas receber apoio, compreensão e, porque não, terapia. Dentre a maioria dos casos, o mais difícil é lidar com o perdão. É praticamente impossível perdoar e esquecer. Perdoamos e dizemos que esquecemos, mas não... não esquecemos. Como um dia definiu muito bem a minha esposa, sobre os sentimentos que sucedem o perdão genuíno: "... já doeu muito, depois menos e cada dia um pouco menos, até deixar de doer. Mas esquecer, a gente nunca esquece". O extraordinário poder de esquecer pecados já perdoados só cabe a uma única pessoa: Jesus Cristo. A nós, só nos resta lidar e crescer com a consequência deles.



Tudo de bem.



quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Música eletrônica


Em meados de 1986, quando eu estava em meu primeiro emprego - estoquista em uma loja de moda masculina - fui apresentado a um artista que mudou meu gosto musical para sempre: o francês Jean Michel Jarre. Uma colega de trabalho (má oiiii!!!) me emprestou o LP "Revolution", e a música que ouvi ali me deixou numa mistura de impressionado/apaixonado pelos teclados e efeitos mirabolantes dessa que, pra mim, seria a música do futuro. Fui curtindo cada vez mais e comprando outros discos nas extintas lojas Mesbla e Shop Audio&Video, em Santo André. Com minha mania de que tudo tem que começar do começo, fui atrás do primeiro lançamento de Jarre, Oxygene, de 1976. Depois fui comprando tudo em ordem cronológica, Equinoxe, Magnetic Fields, Zoolook, e assim por diante. Numa época anterior à internet, onde toda mídia era obrigatoriamente física, o jeito era ir de loja em loja, ou importar. Felizmente, tudo o que eu queria estava à disposição na grande São Paulo, e fui aumentando minha pequena coleção de vinil, da qual nunca me desfiz, exceto por... eu conto no final.

Jean Michel é filho do também consagrado músico e compositor Maurice Jarre, autor das trilhas sonoras de filmes premiados, como Lawrence da Arábia, Dr. Jivago, Sociedade dos Poetas Mortos, Ghost, entre outros. Comecei a virar fã das trilhas sonoras de filmes também, e passei a procurar por esse tipo de música. Quando percebi que o material de Jarre era limitado, procurei por outros músicos que seguiam essa pegada eletrônica, e conheci os alemães do Kraftwerk. Achei o máximo, era um estilo bem diferente de Jarre, com mais uso de vocais, com músicas cantadas do início ao fim, como no caso de "The Model".

Depois de um tempo, conheci Vangelis, autor de músicas um tanto variadas, de estilo totalmente eletrônico, como a trilha de Blade Runner, ou clássico, como a premiada Carruagens de Fogo, do filme homônimo. Em seguida, veio Rick Wakeman, ex-tecladista do Yes. Eu gostei muito de seu trabalho, pois seus discos eram temáticos, faziam parte de um grande espetáculo musical, que contava as histórias do Rei Arthur ou da Jornada ao Centro da Terra. As faixas musicais eram intercaladas com a narração dessas histórias, e isso fazia nossa imaginação voar alto. Embora houvesse a opção de se importar vídeos desses shows e ver a performance de Wakeman no palco - geralmente vestindo túnicas chamativas, recriando o visual de um verdadeiro mago - o barato mesmo era ouvir e imaginar toda a cena na nossa cabeça. Tenho saudades dessa época, em que se valorizava o poder que a música tem de influenciar positivamente o nosso intelecto.

Esse pessoal foi pra mim na época, o que o Daft Punk é hoje. Só que com recursos que custavam muito mais caro, e exigindo muito mais da criatividade, além do próprio talento. Eu poderia citar muito mais artistas da música eletrônica daquela época, mas estes foram os mais expressivos. A maioria deles continua na ativa até hoje, e muitos de seus trabalhos, compostos nos anos 70 e 80, continuam atuais, dá pra ouvir numa boa, sem parecerem datados. Alguns expoentes da música eletrônica se misturam com outros gêneros, alguns tecladistas e até os considerados músicos da nova era. Ouvi Kitaro e adorei! Comprei a série de discos de um trabalho que ele fazia, chamado Silk Road, composto em vários volumes.

Música suave, contemplativa, muito diferente do industrial e pesado que ouvia no começo. O toque oriental de Kitaro era inspirador, e muitas vezes até melhorava minha dor de cabeça! Era só chegar em casa, deitar o bolachão na vitrola - um "três em um", na verdade - e deitar no sofá. A melodia era soberba, e me levava a viajar através das culturas e do tempo. Tudo ia bem, até o dia em que a música considerada "da nova era" começou a ser perseguida pela igreja cristã e considerada uma ameaça, uma intrusão da religião oriental em nossas mentes, em nossos lares. Fui então, contrariado, levar meus discos do Kitaro pra uma banca que vende/troca/compra discos e fitas k7. O que levei pra casa naquele dia, em troca dos Kitaro, nem me lembro mais. Mas o que deixei ali, naquela banquinha da rua Senador Fláquer, foi um material de valor pessoal único e também música de primeira qualidade. Além do quê, sem que eu soubesse na época, foi o gatilho que iniciou muitos questionamentos que eu faria na vida, acerca do que é sagrado e do que é profano.

Tudo de bem e de mais musical possível!


Um beijo pra você, Marcia Mariano, esteja onde estiver, e obrigado por me emprestar seu disco do Jean Michel Jarre!

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A teologia em Conan, o bárbaro

                                     
Uma das cenas que mais me diverte no filme "Conan, o bárbaro" de 1982, é quando ele e seu novo amigo, Subotai, discutem sobre os deuses para quem eles oram. Momentos antes, Conan salvara o pobre hirkaniano de grilhões que o prendiam a um rochedo, onde provavelmente seria devorado pelos lobos, e agora, sentam-se juntos para fazer uma boa refeição. E é aí que, do nada, o cimério faz uma inusitada pergunta ao companheiro. Tentarei reproduzir o diálogo:
- Para que deuses você ora?
- Rezo para os Quatro Ventos - responde Subotai. - E você?
- Para Crom. Mas faço isso raramente. Ele não me escuta.
- De que ele serve, então?
- Quando eu morrer, terei que me apresentar a ele, e ele me perguntará qual é o enigma do aço. Se eu não souber, serei banido do Valhala e Crom rirá de mim. Assim é Crom, forte em sua montanha!
- Bah! Meu deus é maior!
- Crom, do alto de sua montanha, ri dos seus Quatro Ventos! - reage Conan, com uma gargalhada.
- Meu deus é mais forte. Ele é o céu eterno - responde, apontando para cima. - O seu deus vive embaixo dele!
Conan se cala, pensativo, e não prossegue com o debate.

Além de terminar a discussão com estilo, me pareceu que Subotai sabia mais a respeito de seu deus do que Conan sabia sobre o dele. Acho que é mais ou menos assim que muitos religiosos da atualidade se comportam em seus debates. Colocando os atributos de seus deuses numa arena, como se selecionassem cartas de Pokemon para um duelo. Consequentemente, muitos leigos acabam escolhendo sua religião da mesma forma que escolhem um time de futebol para o qual torcer, e nem recebem o mínimo de instrução necessária para exercitar sua crença. O conhecimento acerca de seu deus é superficial, assim como acerca de suas doutrinas e disciplinas espirituais. Não é raro ver gente "mudando de religião" o tempo todo. E até muitos cristãos, mudando de denominação evangélica ao primeiro descontentamento enfrentado. Já ouviram a frase "ah, não estou me sentindo bem aqui"? Pois é... não posso generalizar a situação de cada um, mas será que esse "sentir-se bem" não seria um sinal de que se está procurando a sensação errada numa igreja? Aliás, o objetivo de uma igreja/religião é proporcionar sensações? Pense nisso.

Voltando ao exemplo de Conan, o que fascina muita gente sobre a escolha de um deus ao qual servir, é o quanto ele é forte. Na internet, não foram poucas as vezes em que li textos nos quais as pessoas debocham de Jesus e do calvário, acusando o cristianismo de ser uma religião decadente, de um deus fraco, que se deixa espancar e acaba morrendo numa cruz. Mas o extraordinário acerca de Jesus é justamente isso: o maior poder que já existiu é o amor. O apóstolo João explica que Deus se revelou como sendo amor, e não como poder (apesar de ser onipotente). E não houve maior demonstração de amor do que a de um deus que se deixa matar para ser o sacrifício perfeito, para um Deus que é perfeito, e assim salvar toda a humanidade de seus pecados. Além disso, Jesus morreu na cruz mas não "ficou morto"... ressurgiu, e vive para sempre. Mas para crer nisso é necessário fé, e de fé a gente fala outra hora.

O mais curioso acerca daqueles que procuram um deus que representa poder - e não amor - é que se esse deus não demonstra a força que se espera, ele deixa de ser seguido, de ser respeitado. Atentem, ó humanóides, para a oração de Conan em sua derradeira batalha, que ocorre no fim do filme. Ele e Subotai terão que enfrentar, sozinhos, o vilão Thulsa Doom e seus homens:
- "Crom, eu nunca orei desse jeito a ti antes, não tenho jeito pra isso. Ninguém, nem mesmo tu te lembrarás se fomos homens bons ou maus. Porque lutamos ou porque morremos. Não. Tudo o que importa é que dois enfrentaram muitos. Isso é o que importa. A coragem te agrada, Crom, então concede-me um pedido. Concede-me a vingança. E, se não me escutares, então que vás pro inferno!"

É... acho que tá meio difícil para os deuses pagãos conseguirem um pouco de respeito!


Tudo de bem a todos.


Observação: a belíssima trilha sonora do filme foi composta por Basil Poledouris, e o nome do tema que toca ao fundo, na cena em que Conan e Subotai debatem, não poderia ser mais apropriado: Theology.





domingo, 22 de setembro de 2013

Paulo era de veneta!


Nos últimos meses, o grupo de estudo bíblico em que participo, às quintas-feiras, esteve abordando todo o livro de Atos do Apóstolos. Foi interessante se aprofundar, a cada semana, numa linha de raciocínio com outras pessoas a respeito de tudo que Lucas relatou sobre o surgimento da igreja primitiva, especialmente acerca das viagens missionárias de Paulo e sua estratégia evangelística. Como expliquei na postagem inaugural deste blog, o livro Temperamentos Transformados elege o Apóstolo Paulo como o ícone bíblico do comportamento colérico, ou seja, se por um lado ele possui virtudes que fazem dele um líder entusiasta, determinado, prático, eficiente e audacioso, por outro lado, ele também carrega certos defeitos, como a prepotência, a intolerância, a auto suficiência e o mau humor. Estes elementos são claramente vistos enquanto lemos a respeito de suas viagens, inclusive, no episódio em que ele discute com Barnabé, seu colega de missão, a ponto deste último se separar e rumar para outro lugar, tocando seu ministério sozinho.

É curioso como Deus não escolhe pessoas perfeitas para seus propósitos. Pra começar, elas não existem. Mas não deixa de ser curioso notar como as deficiências comportamentais de Paulo são chamativas. Parece que seu caráter revela muito mais para nós do que o próprio Paulo gostaria. Mas aprendemos grandes lições acerca disso. Uma delas está justamente no fato de que, ao mesmo tempo em que a determinação e o entusiasmo o levam à várias cidades para pregar o evangelho, sua intolerância com os incrédulos e escarnecedores o faz dar meia volta! Como aconteceu por exemplo, em Antioquia e Icônio, onde após passar um bom tempo debatendo acerca da vida, morte e ressurreição de Jesus, e acaba "sacudindo o pó das sandálias" e indo para outra cidade, em virtude do endurecimento de coração de seus ouvintes nas sinagogas. Casos parecidos também ocorreram em Tessalônica, Corinto e Éfeso: ao chegar à estas cidades, como de costume, nos sábados Paulo ia às sinagogas para levar as boas novas. Durante algum tempo, e mesmo após a conversão de muitos, a irritação com os que resistiam e blasfemavam era tanta, que o apóstolo sacudia as roupas num gesto de "cansei, já chega" e ia para a casa de algum irmão recém-convertido que o recebia.

Esse gesto nos mostra que, na maioria das vezes, não dá pra ficar perdendo tempo com quem não quer ouvir. Acredito que o evangelho não pode ser empurrado "goela abaixo" das pessoas, acho que aqueles que possuem a pré disposição de ouvir, nos receberão com alegria e disso nascerão muitos frutos. Só consideram ouvir do evangelho de Jesus Cristo aqueles que têm fé - e explicar o que é fé é meio difícil, porque dá até pra confundi-la com loucura - e não aqueles que exigem pura lógica e provas científicas... simples assim. Por isso, Paulo sempre obedecia à voz de Deus, indo onde era preciso, de forma que num espaço de dois anos, toda a Ásia ouviu falar de Jesus: aceitá-lo ou não, isso já era outra questão. Pois é, Deus usou esse homem, alguém com tantas virtudes e tantos defeitos, alguém como eu e você, para uma empreitada de proporções gigantescas, tendo sofrido, sido surrado, apedrejado, preso, naufragado, e ainda assim, alcançado o propósito desejado. Um homem que, mesmo com todo o peso da responsabilidade sobre seus ombos, se permitia continuar sendo humano, "explodindo" de vez em quando, sendo grosso às vezes, mas nunca deixando de ser sincero e verdadeiro. Empregando uma expressão que a minha avó usava, esse Paulo era mesmo de veneta!

Tudo de bem!


(Continue acompanhando o blog... uma hora dessas a gente conversa sobre a questão da fé.)

domingo, 15 de setembro de 2013

Ultraman e o Carpe Diem


Foi assistindo à "Sociedade dos Poetas Mortos", de 1989, que tive contato pela primeira vez com aquela frase em latim. Ao conduzir seus alunos à galeria de fotos da escola, onde figuravam centenas de estudantes de outras épocas, o professor John Keating sussurra em seus ouvidos: "carpe... diem... carpe... diem... aproveitem o dia"! Lembrando aos seus pupilos de como a vida é passageira, de como o tempo passa depressa, o mestre lhes mostrava que todas aquelas vidas que estampavam os retratos já se tinham ido. Todos os feitos, grandes e pequenos, foram legados daquelas pessoas que já morreram. E, nas fotos, exibiam um vigor e uma chama de vida que parecia que jamais os abandonariam. Portanto, era necessário se lembrar de que aproveitar as oportunidades era de suma importância, porque a vida, os momentos especiais, não são tão duradouros.

Aprendi essa lição ainda cedo, mais cedo do que a sessão na qual vi o filme que acabo de citar. Foi assistindo as lutas do Ultraman contra os monstros que surgiam a cada episódio, no seriado de mesmo nome, criado em 1966. Cresci assistindo e sendo influenciado por essas produções japonesas, e o Ultraman, acredito, não seja só o maior expoente dessa linha, como também um dos maiores ícones da cultura pop nipônica e mundial. Acontece que o Ultraman, após aparecer na tela, tinha apenas 3 minutos pra derrotar o inimigo, senão, adeus. Em seu planeta de origem, um sol artificial gerava a energia vital de que todos seus semelhantes necessitavam, mas o sol da Terra não é suficiente para isso, e só lhe concede poucos minutos de atividade. O herói caiu na Terra ao perseguir uma criatura fugitiva, e na queda, acabou matando por acidente um membro da Patrulha Científica, Hayata. Assim, o ser alienígena se aloja no corpo do patrulheiro, gerando uma relação simbiótica, na qual permite que o humano continue vivendo, mas cedendo espaço à aparição (transformação) do grande guerreiro quando há a necessidade.

E é nesse aspecto que está o carpe diem de Ultraman: por mais difícil que seja a ameaça, ele tem que resolver a situação em 3 minutos, caso contrário, sua energia se acaba e ele cai como se estivesse morto. Cada segundo para ele é vital, e às vezes ele precisa mudar suas estratégias várias vezes para dar cabo de seu algoz. Nada me parecia mais didático na questão de aproveitar o momento, do que ver aquele super herói se virar em tão pouco tempo. Ele possui uma luz colorida no peito que pisca mais rápido à medida que a energia vai se consumindo... e muitas vezes isso gerava um suspense danado! Só no último episódio que isso de fato acontece: o inimigo dá muito mais trabalho e a energia do herói se esgota totalmente... a Patrulha Científica consegue dar cabo do monstro, e um conterrâneo do Ultraman vem à Terra para levar seu colega desfalecido de volta pra casa.

E tem mais uma coisa que quero dizer acerca desses heróis que dependem da energia solar. O Superman, personagem norte americano muito mais popular que o Ultraman, também precisa da energia do nosso sol, mas ao contrário do gigante japonês, o sol amarelo da Terra tem radiações que afetam de forma muito benéfica o kryptoniano. Se em seu planeta natal ele seria uma pessoa comum, em nossa atmosfera ele adquire super poderes que fazem dele um ser quase imbatível, podendo voar, arremessar rochedos e enxergar através das paredes com visão de raios-x. E dito isso, dou um ponto pro Ultraman, sabe? Ele consegue ser um super herói que se vira muito melhor apesar de todas suas desvantagens! "Carpe diem" com o Superman é fácil... se não aproveitou o momento, é só girar a Terra ao contrário e conseguir uma segunda chance! Agora, se a gente quer mesmo uma lição de "carpe diem" pra valer, o negócio é "se virar nos trinta", ou melhor, "se virar nos 3 minutos"!

Tudo de bem e aproveitem o dia!


segunda-feira, 9 de setembro de 2013

O trânsito que nos transforma - Parte II


Há algum tempo atrás, uns 20 anos eu creio, colar um adesivo cristão no vidro do carro era uma atitude de coragem, e de assumir publicamente quem era o seu Senhor. Tanto que me lembro, na empresa em que eu trabalhava, onde a maioria dos funcionários era cristã, um dos meus superiores teve um problema sério com as consequências de um pecado cometido e rompeu a comunhão com a igreja. Mas continuou na empresa. O adesivo que havia no vidro traseiro do seu carro "Jesus é paz", ele mandou tirar. Se tirou, porque não tinha mais a paz que só Jesus pode dar, ou se tirou porque o adesivo não testificava mais com seu padrão de comportamento, isso eu não sei. Mas tirou porque incomodava, não combinava mais consigo.

Muita coisa mudou nestes 20 anos, e hoje quase todo mundo coloca em seu veículo adesivos que remetem a uma espiritualidade que pode ser verdadeira, ou não. Parece que está na moda ser evangélico, ou algo assim... passou a ser popular e até uma questão se status, ostentar algum penduricalho que remeta a Jesus, a Deus ou ao cristianismo em geral. Mesmo que Deus ou a pessoa de Jesus não estejam em seus lugares apropriados de honra, respeito e soberania, em frases como "propriedade exclusiva de Jesus": Ora, se é exclusiva de Jesus, o cabra que tá lá no volante não deveria estar dirigindo o carro, não é? Mas, como tem cada carro caindo aos pedaços usando esse adesivo, melhor não incomodar o Mestre.

E nem só de textos de gosto duvidoso vivem certos carros adesivados. Curiosamente, esses veículos possuem pessoinhas dentro, que parecem não se importar com a mensagem que está estampada nos vidros. Muitas delas dirigem como se a pista (ou, as pistas) à sua frente lhes pertencesse, andando à velocidade que bem escolhem, e não aquela regulamentada pelas leis de trânsito. Se possível, ficam digitando no smartfone, enquanto dirigem na faixa da esquerda naquela avenida bem movimentada. Dobram as esquinas, mudam de faixa e param repentinamente para estacionar sem ligar a seta. Não dão chance ao motorista que aguarda numa via secundária, ao invés disso, viram o rosto fingindo que não o viu. Na rodovia, ultrapassam a toda velocidade pela direita, tirando aquela "fina" do caminhão. E quando surge um engarrafamento, não dão uma de bobo: vão pelo acostamento... afinal, são filhos do rei, e isso lhes confere grandes vantagens!

Parece que a época em que poderíamos esperar mais de alguém que estampa "Nas mãos de Deus" em seu carro, já se foi. Isso não é mais sinal de bom testemunho, infelizmente. Confesso que fico irritado quando vejo algum motorista fazendo "aquela" barbeiragem, e tem lá o peixinho colado no porta-malas. Mas logo me lembro do que disse antes: adesivos assim estão por toda a parte, que nem aquele da "familiazinha". Além do mais, às vezes o sujeito pegou o carro emprestado daquele irmão em Cristo, que é bom motorista. Às vezes, o cara comprou o carro e não deu tempo de tirar o adesivo. Às vezes, ele nem sabe o que significa aquela plaquinha cromada. Semana passada, passou por mim um carro na BR-101, que tinha dois adesivos na traseira: à esquerda, o peixinho, símbolo do cristianismo, usado desde os primórdios da igreja até como símbolo secreto para os irmãos se identificarem durante a perseguição... e à direita, um adesivo em que se lia "Só dou carona pra quem me dá". E então, preciso dizer mais alguma coisa?

Olha lá que adesivo tu vai colar no teu carro... e tudo de bem!



sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A renúncia da própria humanidade


Recentemente, passei a rever a antiga série de tv Além da Imaginação (Twilight Zone). Ontem, assisti ao 12º episódio da segunda temporada, "Dust", onde um homem é condenado à forca por ter atropelado e matado uma garotinha. As histórias acerca do velho oeste americano sempre nos mostraram a incomplacência dos homens que viveram naquela época e lugar, e aqui o caso não é diferente, como passarei a contar. O condenado de origem mexicana não teve sequer a chance de um julgamento, indo pra cadeia na mesma noite em que, após se sentir impotente diante da família que passa fome, vira goela abaixo sua última garrafa de uísque e sai desesperado em uma inconsolável cavalgada, provocando o acidente fatal. A execução fica então agendada para o dia seguinte.

E por mais lamentável que seja a morte de uma criança, pior é ver a avidez que os moradores da cidadezinha têm por mais sangue derramado, chegando com roupas de domingo pra ver o enforcamento. Carroças vão estacionando, trazendo famílias inteiras, e os pais orgulhosos por mostrarem os filhos, ainda na tenra idade, como é que se paga olho por olho, dente por dente.
Uma vida sendo tirada em público se torna uma atração sem igual, tanto para aquelas pessoas ignorantes desta história, como foi na idade antiga, ou na idade média, ou moderna, ou mesmo hoje. É sempre espantoso como o cumprimento de uma sentença de morte é atraente às massas.

Diante do povo excitado que aguarda a morte do homem, além de ter que se incomodar com um certo vendedor ambulante que perturba e caçoa o tempo todo do réu, o xerife, conhecendo de fato o que aconteceu, permanece de lado, soturno e melancólico, tentando cumprir seu dever da melhor forma possível. Ele sabia que foi um acidente, ele sabia que não havia intenção nenhuma de matar, que o homem já estava sofrendo o suficiente, mas o sistema determinava o que deveria ser feito, e contra a "lei" ele nada podia fazer.

Ao ver a imagem do ser humano à sua volta, retorcida pelo ódio e por vingança, clamando por mais um pescoço quebrado, o velho xerife solta a frase que me levou a escrever este post: "Em que dia mesmo Deus criou as pessoas? No sexto? Ele deveria ter parado no quinto!"

Desde quando nós passamos a nos estranhar tanto, a ponto de não nos reconhecermos mais como os seres feitos à imagem e semelhança do Altíssimo? Desde quando olhamos a crueldade do nosso semelhante e não nos identificamos mais com ele, a ponto até de acharmos que somos de uma outra raça? Desde quando começamos a pensar que somos diferentes, menos cruéis, mais "bonzinhos"... desde quando? Me parece que essa estranheza que sentimos, quando os nossos iguais se comportam como bestas-feras, já vem de muito tempo. Ela nos incomoda, e até nos faz questionar se Deus sabia que tudo isso iria acontecer, quando fez o homem.

Eu acho que sim, Ele sabia. E mesmo assim, preferiu evitar criar autômatos sem vontade e nos deu o privilégio da escolha. Assim, podemos evitar nos juntar a uma turba de criminosos, e corrermos para perto do Pai e seguimos seus conselhos. Isso não nos torna diferentes dos demais, nem menos pecadores, mas nos dá a chance de fazer as coisas de outro modo, do jeito que o Pai gosta. É bem melhor assim, do que preferir que as pessoas jamais fossem criadas... bem melhor do que renunciar à nossa própria humanidade.

Tudo de bem e de melhor pra vocês.

 
(Ah, eu não disse antes, mas o nome do episódio se refere a um certo pó mágico que o vendedor ambulante oferece ao pai do condenado para o salvar... bem, se não tivesse um elemento assim na história, não seria "Além da Imaginação", seria?)

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Giant Robo: um legado paterno de 1.500 toneladas

Não há como esconder meu interesse por robôs desde muito criança. Sempre que eu via um tipo diferente, seja em filmes, desenhos animados ou gibis, tentava desenhar. Tenho guardado até hoje um rabisco que eu fiz do robô da série Perdidos no Espaço. Eu ficava impressionado com a tecnologia avançada que o mundo da ficção científica me apresentava, onde o homem era capaz de criar uma máquina com aparência e comportamentos humanos, e cumprir ordens de maneira imediata. Tinha aqueles do tipo mordomo, alguns do tipo operário, e aqueles com super equipamentos, que podiam voar e disparar raios. E tinha também os gigantes...

Conheci o Robô Gigante na série live-action japonesa de 1967, que na época da minha infância passava na extinta TV Tupi, e teve uma reprise no inicio dos anos 80 na TV Record. O seriado, baseado no mangá de Mitsuteru Yokoyama, contava a história de um garoto chamado Daisaku Kusama, integrante da equipe de defesa terrestre Unicórnio, que luta contra os malfeitores da gangue BF. Curioso como nessas séries um menor de idade pode fazer parte de organizações assim, e lidar com situações pra lá de perigosas... bem, um dia, ao tentar salvar um cientista que foi sequestrado e forçado a construir um robô colossal para o BF, Daisaku acaba gravando a própria voz no controle remoto do robô - um relógio de pulso - sendo que a primeira pessoa que o fizesse, teria controle total sobre a máquina. Assim, além de desmantelar a base de operações dos seus inimigos, o esquadrão Unicórnio passaria a contar com um incrível aliado na sua luta incansável contra os BF, cujo líder era um alienígena terrível chamado imperador Guilhotina. Assim, foram 26 episódios de muita ação e lutas titânicas entre o Robô Gigante contra monstros e outras ameaças mecânicas criadas pelos asseclas do imperador extraterrestre. O nome dessa série nos EUA era Johnny Sokko and his Flying Robot. Humm... interessante o título destacar o fato do robô voar, e não o seu tamanho.

Em 1992, fiquei sabendo que o diretor de animação Yasuhiro Imagawa iria estar à frente de um projeto chamado Giant Robo: The Animation, que traria de volta às telinhas as aventuras de Daisaku Kusama e seu enorme companheiro de aço. Eu confesso que fiquei empolgado em imaginar todo aquele cenário da antiga série, retratado num anime, onde a criatividade não estava presa às amarras dos efeitos especiais de estúdio, nem às pessoas em fantasias de borracha. Eu ficava imaginando como seria aquele mostro que era praticamente um grande olho com pernas, ou aquele que parecia uma arraia, agora na versão animada. Para minha (breve) decepção, o roteiro era totalmente diferente agora, muito mais centrado nos personagens e na trama, um tanto complexa, do que nas lutas-de-derrubar-prédios. Já não havia mais monstros, ou alienígenas, ou uma luta muito bem definida do bem contra o mal. Agora o inimigo era alguém muito mais próximo, alguém em que se podia confiar. Tudo começa com a tragédia de Bashtarle, onde uma cidade foi varrida da face da Terra, quando um renomado cientista chamado Franken Von Vogler detona um conjunto de dispositivos chamados Shizuma Drive, que são a fonte de energia revolucionária mais recente no mundo, e cuja importância está centralizada na trama. Logo se vai descobrindo que a BF (designada aqui como Big Fire) está por trás de tudo, e a dominação mundial é o seu objetivo. O filho do Dr. Vogler, Genya, sai em retaliação contra o mundo que acusa seu pai de genocida, a bordo de uma gigantesca máquina de destruição, o Vogler's Eye. É hora do Robô entrar em ação.

Contei tudo isso, apenas pra chegar aqui.
O anime Giant Robo, lançado para o mercado de vídeo em 7 episódios, nos brinda com uma subtrama mais interessante do que parece. Atrás das batalhas cheias de ação, com animações de cair o queixo - garanto que não estão muito datadas - somos surpreendidos com uma tocante história de pais e filhos. Além da conturbada relação entre o doutor Von Vogler e seu filho, obcecado por vingança e domínio, ainda temos uma relação mais silenciosa e profunda, vinda da figura do gigantesco robô e Daisaku. Diferente do antigo show de tv, nessa história, o cientista que constrói o robô sob ordens da Big Fire é o pai de Daisaku, o prof. Kusama. Em cativeiro, ele desenvolve e constrói uma máquina gigantesca, humanóide e com cara de esfinge, movida a energia nuclear, armada com canhões, mísseis e bombas. Mas além disso, ele insere também em sua criação, muito amor e um forte desejo de proteger seu filho de tudo nesse mundo. Ele nunca contou a seu filho tudo o que sentia por ele, mas todo esse sentimento foi posto em prática após sua morte. A ideia do controle do robô estar nas mãos de Daisaku contrariou - e muito - os líderes da organização, e o professor Kusama é assassinado. Diante do corpo baleado do pai, o pequeno Daisaku é tomado por violentas emoções, o robô é ativado, e ambos fogem juntos da base secreta.

A partir daí, a IPO, uma espécie de polícia internacional, fica com a guarda de Daisaku e também da posse do Robô Gigante. Ambos passariam a trabalhar em conjunto para livrar a Terra das ameaças constantes da BF. Em cada batalha, a relação de Daisaku com o robô é colocada em evidência, e parece mesmo que algo habita o ser metálico, algo que zela e preserva o garoto de todo o perigo, mesmo quando uma ordem não é dada no relógio de comando vocal. Às vezes, temos a nítida impressão de que o robô age de forma independente, mesmo que isso aparentemente não fosse possível. No final do primeiro episódio, por exemplo, Daisaku e outros membros da IPO estão há quilômetros de distância da base, onde fica o hangar do robô, e assim que o menino fica em perigo, o gigantesco sentinela se solta de suas amarras de segurança e alça vôo em auxílio imediato.

Daisaku foi levado a vários conflitos ao longo da história, alguns externos é claro, mas os mais terríveis foram os internos. O fardo, a tremenda responsabilidade que ele sentia por ser o operador de uma das máquinas mais poderosas da Terra, constantemente o colocavam em crise, e sentia muita mágoa do seu pai. Mágoa por o ter colocado nessa situação, e principalmente, por não estar mais ali ao seu lado. Ele viveu com essa dor por muito tempo, até que, chegando no fim da trama, uma revelação é feita que o leva a mudar drasticamente de pensamento. Após o robô ser severamente danificado no olho esquerdo, Daisaku entra em parafuso com a possibilidade da derrota, mas é tomado por um momento de epifania, quando parece ver seu pai o chamando de dentro dos circuitos da grande máquina. Agora tudo estava claro: seu pai nunca o havia abandonado, ele sempre estivera ali, junto com sua criação, cuidando e lutando ao seu lado!

Pra mim, ver Daisaku se alojando dentro da cavidade ocular do Robô Gigante, enroscando seus braços e cintura nos cabos e fios da cabeça gigantesca, foi uma cena memorável! Se sentindo seguro de verdade depois de tanto tempo, ele assume a posição ofensiva e vai à luta, desta vez para a vitória. Ali, ele entendeu. Entendeu que nunca esteve sozinho, apenas controlando uma máquina, mas esteve sob a forte mão protetora de seu pai que, se estivesse realmente ali, em carne e osso, não poderia enfrentar aquela batalha. Mas o gigante poderia. O legado de seu pai era extremamente forte, e era tudo de que o filho precisava. Mais gigantesco do que a máquina que criou, era o desejo de proteger e cuidar do seu filho, mesmo após sua morte. Esse é um legado que todo pai deveria deixar a seus filhos: a certeza de que estes poderão enfrentar a vida, mesmo quando se sentirem desamparados, mesmo quando parecer que ficaram órfãos.


 E, é claro, tudo de bem pra você!
  


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

O trânsito que nos transforma - Parte I


Um dos piores cenários no qual somos desafiados a ter equilíbrio é atrás de um volante. Por mais serenos e de bem com a vida que possamos estar, parece que uma força sobrenatural toma conta de nosso humor quando somos desacatados por outro motorista. Subitamente, o nosso bem estar, a nossa alegria ao cantarolar aquela música que toca no rádio se vai, tudo num passe de mágica. Se alguém esbarra com você numa fila de banco, tudo bem, se alguém encosta um carrinho de supermercado no seu, sem problema... mas se te cortam a frente no trânsito, ainda mais sem ligar a luz de seta, parece que uma declaração de guerra acaba de ser assinada. Por mais que você não xingue, por mais que você não saia em perseguição exigindo a desforra, por mais que você não queira dar o troco, pelo menos fica o aborrecimento e a inquietante pergunta: por quê?

Por quê, com tanta facilidade, fazem comigo o que eu não gosto de fazer com os outros? Por quê a educação é tão menosprezada quando se dirige um veículo? Por quê "eles" pensam que têm direito de fazer o que bem entendem, quando há regras tão bem definidas para se comportar no tráfego, ou mesmo para se conseguir uma licença para dirigir, uma carteira de motorista? São tantos porquês, que seria ridículo listá-los aqui. Mas creia, todos surgem na cabeça ao mesmo tempo quando isso acontece comigo. É a pura indignação me atacando.

Tenho algumas teorias sobre o que acontece com as pessoas. Em uma delas, poderia arriscar dizer que as pessoas se sentem como que recorrendo a avatares, quando dirigem seus carros. Assim como lhes é natural assumir uma identidade totalmente diferente da sua, no anonimato, quando está jogando online no computador, numa campanha de World of Warcraft por exemplo, também há como se esconder atrás da película que escurece o vidro do automóvel, para daí por diante, agir livremente por regras diferentes das quais elas seguem quando estão à pé, sendo cordiais com os vizinhos, elogiando o cachorrinho daquele jovem casal, e dando um bom testemunho de cristão. Essa teoria só é furada quando o transgressor age assim, mesmo sabendo que tem aquele adesivo de "peixinho" colado no porta-malas.

Sempre achei que, quando tomo uma atitude no trânsito, estou mandando uma mensagem. Se a atitude é boa, correta, dentro da legislação, a mensagem que transmito é a de que me importo com meu próximo, respeito e coopero com o bom andamento do tráfego. Se a atitude é má, mesquinha, agressiva, a mensagem que passo é a de que tudo o que me importa sou em mesmo, meus horários, minha preferência, ou seja: eu tenho que me dar bem, sempre, a despeito das urgências alheias. Em resumo, quando eu faço uma conversão abrupta e sem sinalizar corretamente, estou querendo dizer "dane-se, você que vem atrás... pra mim, você não existe!"

Eu tenho melhorado muito ao longo dos anos, como motorista, nessa terra inóspita do trânsito nas ruas e rodovias, e tudo por causa da pessoa de Jesus. Não há como afirmar ser discípulo de Cristo sem ser minimamente influenciado por ele, logo, a gente vai aprendendo a negar a si mesmo, a deixar pra lá, a contar até duzentos dez, e assim por diante. Não é nada fácil, se somado a um temperamento explosivo e à sede de que a justiça seja feita em todas as circunstâncias. Ainda falta um longo caminho até que eu possa me ver como um exemplo, nem sei se esse dia chegará, mas estou tentando... ah, Deus sabe o quanto! Enquanto esse dia não chega, vai assistindo aí um desenho de 1950 com o Pateta, mostrando que essa crise não é de hoje.




Tudo de bem, e muita calma nessa hora!



terça-feira, 27 de agosto de 2013

Como um foguete!

O game que estou jogando no momento se chama Dark Void, da Capcom. Tenho um estranho hábito de jogar aqueles títulos dos quais ninguém mais fala, já considerados velhos para a atual geração de videogames. Dark Void foi lançado no início de 2010 para PS3, Xbox 360 e PCs, sendo apresentado como um jogo de ação terrestre e aérea, já que o protagonista tem uma "mochila a jato", que o leva às alturas tanto em alta velocidade como também proporcionando a versatilidade de levitar na vertical, permitindo melhor precisão ao mirar nos alvos. Gostaria de falar sobre esses alvos. Na trama, a Terra está sendo invadida por seres alienígenas com intenções nada amigáveis - de novo - no período anterior à Segunda Guerra Mundial. Estes aliens se revelam como verdadeiras máquinas de combate, tendo formas que variam desde seres humanóides de metal, passando por uma espécie de cobra naja gigante, até quadrúpedes colossais que demandam muito esforço para serem vencidos. Aceitei o fato de que estava enfrentando uma raça de robôs orgânicos, ou algo assim, como os Transformers.

Esse é o ponto interessante: logo no primeiro capítulo da história, somos surpreendidos ao saber que estas não são as formas reais do extraterrestres, estas máquinas são veículos e trajes que pequenos seres reptilianos operam. Essa raça, chamada de Watchers, é frágil e de baixa estatura, mas desenvolveram uma tecnologia superior à terrestre (terráquea?), que facilita a conquista de novos mundos. Eu teria ficado mais surpreso com isso, não fosse eu já ter visto esse conceito nos Daleks de Dr. Who, ou ter assistido o anime Detonator Orgun. O fato é que, no mundo da fantasia e da ficção, sempre esbarramos com o velho ditado "tamanho não é documento", com anões vestindo armaduras gigantescas, ou cérebros vivos de vilões decrépitos controlando armas de destruição em massa.

 Alguém aí lembra do Rocketeer? Eu sempre quis um game baseado no filme desse herói, e já que até hoje não saiu nada à altura pra ele, exceto versões horríveis na saudosa época da geração 8 e 16 bits, acho que Dark Void é uma boa pedida. Até acredito que o fato do título não ter sido "Rocketeer" se deve há algum problema de negociação com a Disney, detentora dos direitos do personagem, cujo filme saiu em 1991. Todo a ambientação da época do personagem está no game: o mistério envolvendo locais inexplorados, como o Triângulo das Bermudas - tema recorrente nos filmes de aventura dos anos 1940 e 1950, a paixão pelos aviões de guerra, as pistolas e metralhadoras sempre à tiracolo, os heróis vestidos como pilotos, sempre usando jaquetas de couro, botas e luvas, e até um lenço no pescoço. Em 2004 tivemos um filme que retratou muito bem essa tendência: "Capitão Sky e o Mundo de Amanhã" tinha um piloto veterano como herói protagonista, enfrentado robôs gigantes e máquinas voadoras a bordo de seu aeroplano transformável: o avião podia mergulhar e operar como submarino! Toda essa cultura dieselpunk/teslapunk pode ser vista tanto ao longo de Capitão Sky, como de Rocketeer ou de Dark Void. Se você gosta desses elementos, não dê ouvidos aos que criticam um filme ou um game por ter recebido notas medianas da crítica, sem ao menos terem dado uma chance. Há muita coisa boa que é lançada em paralelo aos grandes blockbusters do mercado, que acabam ficando à sombra deles e acabam dados como esquecidos.

Eu não poderia deixar de citar, claro, o personagem original que foi o "pai" de Rocketeer e seus clones: The Rocket Man! Surgido em 1949 na série de televisão "King of the Rocketmen", de 12 episódios, o personagem rendeu audiência suficiente para mais 3 temporadas, "Radar Men from the Moon", "Zombies of the Stratosphere" e "Commando Cody, Sky Marshall of the Universe". Títulos bem interessantes, não? Cada temporada tinha um novo ator e personagem principal diferentes, mas o traje de Rocketman era o mesmo, com diferenças bem sutis.
Puxando de algum canto bem obscuro da minha memória, tenho certeza de ter visto um desses episódios ser exibido na Tv Cultura, há muitos - muitos! - anos atrás, com o título de "Homem Foguete". Estava zapeando entre os (seis ou sete) canais da tv, quando vi o herói saindo de uma caverna, carregando uma bomba nas mãos, e decolando rumo à imensidão do céu azul cinza, com efeitos especiais a lá Chapolin Colorado. Muito bom! Mais informações aqui: http://www.dialbforblog.com/archives/122/

Bem, crianças, eu queria mesmo era ter falado sobre os "aliens" que se revelam como algo bem diferente do que a gente pensa que são, bem diferentes do que está à nossa vista, de que não se deve julgar um livro pela capa, nem formar opiniões pré-concebidas sem antes se familiarizar com o adversário... mas me empolguei e falei mesmo do homem-foguete das séries, filmes e games, que são muito mais legais! Outra hora a gente fala de metáforas, ok?
Tudo de bem!

  

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Por quê humanóide?

                                                       
Talvez você possa estranhar o título deste blog. A primeira impressão que ele pode causar, talvez, seja a de estar fazendo alguma referência a alguma obra da ficção científica ou da fantasia. Nestes mundos saídos da imaginação humana, existem um sem número de seres humanóides. Por exemplo, o ciclope, uma criatura mitológica das fábulas, que lembra um homem em quase tudo, exceto por ter apenas um olho no centro do rosto, ao invés de dois. Ele é um ser humanóide. Como outro exemplo, posso citar o monstro de Frankenstein, criado por um cientista que reuniu partes de cadáveres, e após juntar estes órgãos e membros cirurgicamente, usou eletricidade para dar vida à sua bizarra criação. De longe, parece um ser humano, mas em sua triste e trágica imitação da vida, também não o é. Não passa de um ser de forma humana, mas lhe falta muito para que seja humano de fato.

Mas não é exatamente disto que estou tratando aqui. Sabe, lendo os evangelhos de Jesus Cristo, descobrimos que ele, o próprio Cristo, é a imagem do ser humano perfeito idealizado por Deus, desde a criação, como todos deveríamos ter sido. Como o pecado corrompeu o homem ainda lá no Éden, na figura de um Adão desobediente e tentado a ser independente do seu Criador, a obra-prima de Deus teve que penar por um caminho tortuoso para voltar ao que deveria ser. Ao longo da história da humanidade, temos visto o homem marchando em sua trajetória de conquistas e evolução tecnológica, marcada com muito sangue, suor e lágrimas, na expectativa de ser melhor e mais eficiente,  mais forte e mais rápido, dominando e sendo servido, sempre às custas de um semelhante que tombou. O homem ainda quer ser independente de seu Criador, e nesse processo, simplesmente não pode se tornar aquilo que Deus idealizou para que ele seja.

Essa é nossa semelhança com os humanóides supracitados. Fomos idealizados para ser muito mais, mas resistimos a isso. Somos humanos? Por definição, claro que sim! Mas somos os humanos que Deus sonhou que seríamos? Não, em absoluto. Há um abismo de diferenças que nos separam de um humano de verdade, um abismo de diferenças com Jesus. Mas a grande notícia é que, por um amor que está além de nossa compreensão, o Criador nos convida a observar e andar como Cristo andou, tendo-o como modelo e professor. E se assim fizermos, ao longo dessa caminhada, iremos nos humanizando com o caráter de Jesus, o verdadeiro humano, o homem definitivo, e iremos deixando as diferenças para trás. Logo, deixaremos de ser humanóides, e seremos humanos de verdade, humanos como Deus nos projetou para que fôssemos. Isso é deixar de ser um esboço, um mero rascunho, pra ser a obra pronta! Isso só pode ser encontrado naquele que é homem perfeito, mas que também é Deus perfeito, Jesus, o "marco zero" na salvação da humanidade.

Tudo de bem!

sábado, 24 de agosto de 2013

Um certo Simão Pedro e eu


Há muito tempo atrás, li Temperamentos Transformados, de Tim LaHaye. O livro do autor, que é ministro evangélico e conferencista, nos apresenta a complexa psiquê humana resumida a quatro temperamentos distintos: o Colérico, o Sanguíneo, o Fleumático e o Melancólico. Com as avançadas pesquisas na área da psicologia moderna, hoje já é provado que a coisa não funciona tão simples assim. Mesmo que o autor nos apresente mais temperamentos mesclados dentre estes quatro que citei, ainda assim existem fatores importantes a serem explorados, e que revelarão novas facetas em cada indivíduo.
Mas, apesar de tudo, o livro ainda é muito relevante para nos guiar ao auto entendimento básico, na medida que estes quatro temperamentos são capitais na formação do nosso ser. Além disso, me identifiquei com a descrição do que seria o comportamento sanguíneo: comunicativo, destacado e entusiasta. Pelo aspecto negativo, é volúvel, indisciplinado e impulsivo. E, dentre os personagens bíblicos, LaHaye escolheu o apóstolo Pedro como exemplo deste temperamento.

Bem, então Pedro e eu temos nossas semelhanças. Afinal, sei como é ser impulsivo, muitas vezes fazendo algo somente para se arrepender no minuto seguinte. Às vezes, se voluntariando pra ir até às últimas consequências na defesa de uma causa nobre, para então olhar em volta somente para constatar que entrei nessa sozinho. E às vezes, ofender alguém, simplesmente por estar no "piloto automático" do calor da discussão, para em seguida perceber a gravidade da besteira cometida. Quase sempre, é tarde demais para remediar.

Esse é um bom início de conversa para que, nos textos que publicarei a seguir, poder falar um  pouco sobre as experiências de alguém que se auto reconheceu como um sanguíneo incorrigível.
Tudo de bem!