terça-feira, 22 de outubro de 2013

O perigo de passarmos dos limites


O anime Claymore está no meu "Top 10": direção de arte, música, animação... tudo de excelente qualidade. Mas o que mais me chamou atenção foi a história. Num mundo aparentemente situado na idade média, criaturas demoníacas conhecidas como "Youma" se tornaram um verdadeiro pesadelo para a humanidade. São predadores vorazes que se alimentam das vísceras das pessoas, atacam em bandos ou simplesmente alteram sua aparência para a forma humana e se infiltram nas cidades, assaltando as casas à noite. Para caçar e destruir os youmas foram criadas as guerreiras chamadas de Claymores - em alusão à imensa espada que carregam - que podem detectar a presença das criaturas, mesmo disfarçadas, e eliminá-las com eficiência. As Claymores são em geral belas mulheres, que possuem olhos prateados e cabelos claros. Elas têm força e agilidade muito superior à média humana, além de poder detectar o "youki", a energia espiritual dos youmas.

O segredo por trás desses poderes está no fato de que, para criar uma Claymore, carne e sangue de youma são implantados no corpo destas mulheres, fazendo-as seres híbridos, meio humanas e meio youmas. Clare, a protagonista da história, se ofereceu de livre e espontânea vontade ao processo de transformação, impelida por um forte desejo de vingança contra os youmas, que mataram primeiro sua família, depois a Claymore Teresa que a adotou. Gostaria de falar mais sobre detalhes do enredo e da misteriosa Organização por trás de tudo isso, mas o mais importante aqui é falar a você sobre o "calcanhar de Aquiles" do poder que as Claymore possuem: a necessidade constante de autocontrole.

Assim como os youmas, as Claymore também tem youki, a energia que lhes dá o poder sobre-humano que as capacita a realizar seus feitos incríveis. Quanto mais elas abusam desse poder, mais perto de perder controle sobre ele elas ficam. Quando uma Claymore está no calor da batalha, ela precisa controlar sua raiva, seu medo e seu sofrimento, para que seus poderes não saiam do controle. Quando isso começa a acontecer, primeiro seus olhos mudam de cor, passando do prateado para um dourado brilhante, depois o rosto começa a ficar deformado... se forçar mais o corpo passa a ter características de um youma... se a situaçao continuar, a mente vai ficando confusa, e o lado youma começa a assumir o controle. Depois de um tempo nessas condições, a Claymore chega a um ponto onde não consegue voltar atrás, e se transforma de vez em um tipo de youma mais forte, mais inteligente e muito sedento por sangue: o kakuseisha, que significa "o despertado".

O interessante é que o processo de liberar o youki dá ao usuário desse poder uma incrível sensação de prazer, o que torna todo o processo de parar a transformação algo que exige uma forte dose de autocontrole. Por isso só existem Claymores mulheres, os resultados com homens foram péssimos... dentre os que sobreviveram, todos se tornaram kakuseishas! (uééé... porquê será?)
Depois da transformação - ou, despertar - ainda ficam resíduos da consciência humana no kakuseisha, mas estes são dominados facilmente pela incontrolável sede de sangue que acaba de surgir, além da sensação de alívio sentida por não ter mais os antigos conflitos humanos. Sem mais dilemas de moral, nem regras a serem seguidas, somente o prazer e a auto satisfação!

Meu irmão e eu assistimos a essa serie praticamente juntos, só que eu aqui e ele em São Paulo, e na época discutimos bastante sobre a singular semelhança que existe entre os efeitos do youki e do pecado. A palavra "kakuseisha" era muito empregada entre a gente naquele tempo, pra fazer alusão àqueles que se deixavam dominar pelo pecado, chegando num ponto em que o próprio indivíduo já se mostrava sem forças e sem vontade alguma em voltar à antiga forma. E quando falo de pecado cometido, falo de qualquer pecado, já que desde o considerado "menor" tem a capacidade de fazer um furo em nossa suposta armadura. O paralelo que Claymore faz com a vida espiritual é fascinante: num momento você é o herói, aquele dotado de força e de recursos pra resolver qualquer parada, mas que, ao começar a curtir todos os acertos a glória do momento - seja o do instante ou o da vida - deixa com que a soberba lhe suba à cabeça. E uma vez que sobe à cabeça e encontra lugar no coração, vai lhe dando mais e mais satisfação, mais prazer, mais sensações boas demais para serem negadas. Aí, meu amigo... é kakuseisha!

Por isso toda a Escritura está cheia de advertências sobre termos autocontrole. O apóstolo Paulo cita o domínio próprio como uma das partes (gomos?) que compõem o fruto do Espírito. Os provérbios de Salomão fazem referência a isso muitas vezes. Jesus era um exemplo vivo de temperança, resistindo a inúmeras provações simplesmente por amor. Todos nós precisamos, urgentemente, buscar por essa virtude em nossas vidas. Somos seres manchados pelo pecado desde o nascimento, é fato, por isso temos que aprender a conviver com essa pendência até o dia da nossa redenção. "Pecamos porque somos pecadores, e não o contrário". Se o pecado é algo inevitável, por ser algo ligado à nossa natureza - como o "youki" - e não somente às nossas atitudes, precisamos da Graça diariamente... não, a cada segundo, para resistirmos e continuar lutando mais um dia!
Morte aos youmas!!!... (tô brincando)


Tudo de bem e se controle, faz favor.


                                                                     
                                           Abertura e encerramento da série:


                                                                       



                                         Claymore disponível também em mangá:




4 comentários:

  1. Maclaud. Se Walter White fosse Claymore, ele já seria um Kakuseisha, né? =)

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    1. Sim! Com certeza, Fernando. Esse Walter... vive passando dos limites...

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  2. Cara, mto bom o blog... gostei da mistura pop-geek-teologia, do estilo escrevendo na primeira pessoa, e principalmente da "confusão" pessoal.

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