quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A teologia em Conan, o bárbaro

                                     
Uma das cenas que mais me diverte no filme "Conan, o bárbaro" de 1982, é quando ele e seu novo amigo, Subotai, discutem sobre os deuses para quem eles oram. Momentos antes, Conan salvara o pobre hirkaniano de grilhões que o prendiam a um rochedo, onde provavelmente seria devorado pelos lobos, e agora, sentam-se juntos para fazer uma boa refeição. E é aí que, do nada, o cimério faz uma inusitada pergunta ao companheiro. Tentarei reproduzir o diálogo:
- Para que deuses você ora?
- Rezo para os Quatro Ventos - responde Subotai. - E você?
- Para Crom. Mas faço isso raramente. Ele não me escuta.
- De que ele serve, então?
- Quando eu morrer, terei que me apresentar a ele, e ele me perguntará qual é o enigma do aço. Se eu não souber, serei banido do Valhala e Crom rirá de mim. Assim é Crom, forte em sua montanha!
- Bah! Meu deus é maior!
- Crom, do alto de sua montanha, ri dos seus Quatro Ventos! - reage Conan, com uma gargalhada.
- Meu deus é mais forte. Ele é o céu eterno - responde, apontando para cima. - O seu deus vive embaixo dele!
Conan se cala, pensativo, e não prossegue com o debate.

Além de terminar a discussão com estilo, me pareceu que Subotai sabia mais a respeito de seu deus do que Conan sabia sobre o dele. Acho que é mais ou menos assim que muitos religiosos da atualidade se comportam em seus debates. Colocando os atributos de seus deuses numa arena, como se selecionassem cartas de Pokemon para um duelo. Consequentemente, muitos leigos acabam escolhendo sua religião da mesma forma que escolhem um time de futebol para o qual torcer, e nem recebem o mínimo de instrução necessária para exercitar sua crença. O conhecimento acerca de seu deus é superficial, assim como acerca de suas doutrinas e disciplinas espirituais. Não é raro ver gente "mudando de religião" o tempo todo. E até muitos cristãos, mudando de denominação evangélica ao primeiro descontentamento enfrentado. Já ouviram a frase "ah, não estou me sentindo bem aqui"? Pois é... não posso generalizar a situação de cada um, mas será que esse "sentir-se bem" não seria um sinal de que se está procurando a sensação errada numa igreja? Aliás, o objetivo de uma igreja/religião é proporcionar sensações? Pense nisso.

Voltando ao exemplo de Conan, o que fascina muita gente sobre a escolha de um deus ao qual servir, é o quanto ele é forte. Na internet, não foram poucas as vezes em que li textos nos quais as pessoas debocham de Jesus e do calvário, acusando o cristianismo de ser uma religião decadente, de um deus fraco, que se deixa espancar e acaba morrendo numa cruz. Mas o extraordinário acerca de Jesus é justamente isso: o maior poder que já existiu é o amor. O apóstolo João explica que Deus se revelou como sendo amor, e não como poder (apesar de ser onipotente). E não houve maior demonstração de amor do que a de um deus que se deixa matar para ser o sacrifício perfeito, para um Deus que é perfeito, e assim salvar toda a humanidade de seus pecados. Além disso, Jesus morreu na cruz mas não "ficou morto"... ressurgiu, e vive para sempre. Mas para crer nisso é necessário fé, e de fé a gente fala outra hora.

O mais curioso acerca daqueles que procuram um deus que representa poder - e não amor - é que se esse deus não demonstra a força que se espera, ele deixa de ser seguido, de ser respeitado. Atentem, ó humanóides, para a oração de Conan em sua derradeira batalha, que ocorre no fim do filme. Ele e Subotai terão que enfrentar, sozinhos, o vilão Thulsa Doom e seus homens:
- "Crom, eu nunca orei desse jeito a ti antes, não tenho jeito pra isso. Ninguém, nem mesmo tu te lembrarás se fomos homens bons ou maus. Porque lutamos ou porque morremos. Não. Tudo o que importa é que dois enfrentaram muitos. Isso é o que importa. A coragem te agrada, Crom, então concede-me um pedido. Concede-me a vingança. E, se não me escutares, então que vás pro inferno!"

É... acho que tá meio difícil para os deuses pagãos conseguirem um pouco de respeito!


Tudo de bem a todos.


Observação: a belíssima trilha sonora do filme foi composta por Basil Poledouris, e o nome do tema que toca ao fundo, na cena em que Conan e Subotai debatem, não poderia ser mais apropriado: Theology.





4 comentários:

  1. Adorei esse post, Maclaud. Enquanto lia o diálogo dos personagens foi inevitável ouvir Theology e a voz do Arnold. Sou suspeito pra falar do filme porque, como sabe, ele está no topo do minha lista. hehe. Bela reflexão, também. Valeu!

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    1. Obrigado... que bom que gostou! Dias atrás, ouvi num certo podcast eles chamarem esse filme de "um bom filme ruim". Bom, eu acho que ele tem defeitos, sim: tem escolhas de elenco de um gosto duvidoso, figurino irregular, sequências de ação sem o ritmo certo... mas tem locações maravilhosas, ótimos diálogos, a música é um primor... e tem o Arnold, estrando como um bárbaro! Não dá pra chamar de ruim! :D

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    2. Defender esse filme, pra mim, é um crime passional, eu sei. =) Só tenho olhos para o que nele é bom e o resto se ofusca no brilho da nostalgia. rsss.

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    3. Concordo. Sou culpado desse crime, hehehe! A refilmagem não conseguiu tirar o trono do antigo Conan, então, viva a nostalgia! Um abraço!

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